quarta-feira, 22 de julho de 2009

PAZ PARA QUÊ?

É TÃO DIFÍCIL ÀS VEZES ESTARMOS EM PAZ...
E QUANDO FINALMENTE CONSEGUIMOS ESTAR JÁ NÃO QUEREMOS MAIS.
ESTRANHO...
É ESTRANHO QUANDO A LÓGICA TE DITA TODO O MELHOR TRAJETO E A EMOÇÃO NÃO TE DEIXA CAMINHAR NO SENTIDO CERTO.
DAÍ ACABA-SE A PAZ.
ENGRAÇADO!
É PRECISO PAZ PARA ENCONTRAR A LÓGICA DO TRAJETO E QUANDO SE ENCONTRA O MELHOR CAMINHO VEM A EMOÇÃO, JOGA TUDO PRA CIMA E A PAZ VAI PRAS "CUCUIAS".
O SER HUMANO É MESMO ESQUISITO...
NUNCA SE CONTENTA COM AS COISAS.
PROCURA SEMPRE ALGO E QUANDO ENCONTRA NÃO SE SATISFAZ E VAI PROCURAR OUTRA COISA...
ENTÃO, PAZ PARA QUÊ?
PARA QUE ESSA PROCURA INCESSANTE POR UMA COISA QUE NÃO TE SATISFARÁ?
OU SERÁ QUE ALGUMA COISA SATISFARÁ ALGUÉM UM DIA?

terça-feira, 14 de julho de 2009

AS MINEIRAS

(Carlos Drummond de Andrade)
"O sotaque das mineiras deveria ser ilegal, imoral ou engordar. Porque, se tudo que é bom tem um desses horríveis efeitos colaterais, como é que o falar, sensual e lindo ficou de fora? Porque, Deus, que sotaque!
Mineira devia nascer com tarja preta avisando: ouvi-la faz mal à saúde. Se uma mineira, falando mansinho, me pedir para assinar um contrato doando tudo que tenho, sou capaz de perguntar: só isso? Assino achando que ela me faz um favor.
Eu sou suspeitíssimo. Confesso: esse sotaque me desarma. Certa vez quase propus casamento a uma menina que me ligou por engano, só pelo sotaque. Os mineiros têm um ódio mortal das palavras completas. Preferem, sabe-se lá por que, abandoná-las no meio do caminho (não dizem: pode parar, dizem: 'pó parar').
Os não-mineiros, ignorantes nas coisas de Minas, supõem, precipitada e levianamente, que os mineiros vivem - lingüisticamente falando - apenas de uais, trens e sôs. Digo-lhes que não. Mineiro não fala que o sujeito é competente em tal ou qual atividade. Fala que ele é bom de serviço. Pouco importa que seja um juiz de direito, um jogador de futebol ou um ator de filme pornô. Se der no couro - metaforicamente falando, é claro - ele é bom de serviço.
Mineiras não usam o famosíssimo tudo bem. Sempre que duas mineiras se encontram, uma delas há de perguntar pra outra: 'cê tá boa?' Para mim, isso é pleonasmo. Perguntar para uma mineira se ela tá boa é desnecessário.
Vamos supor que você esteja tendo um caso com uma mulher casada. Um amigo seu, se for mineiro, vai chegar e dizer: 'Mexe com isso não, sô!' (leia-se: sai dessa, é fria, etc). O verbo 'mexer', para os mineiros, tem os mais amplos significados. Quer dizer, por exemplo, trabalhar. Se lhe perguntarem com que você mexe, não fique ofendido. Querem saber o seu ofício.
Que os mineiros não acabam as palavras, todo mundo sabe. É um tal de 'bonitim', 'fechadim', e por aí vai. Já me acostumei a ouvir: 'E aí, vão?'. Traduzo: 'E aí, vamos?'. Não caia na besteira de esperar um 'vamos' completo de uma mineira. Não ouvirá nunca.
Eu preciso avisar à língua portuguesa que gosto muito dela, mas prefiro, com todo respeito, a mineira. Nada pessoal. Aqui certas regras não entram. São barradas pelas montanhas. No supermercado, não faz muitas compras, ela compra 'um tanto de coisa'. O supermercado não estará lotado, ele terá 'um tanto de gente'. Se a fila do caixa não anda, é porque está 'agarrando' lá na frente. Entendeu? Agarrar é agarrar, ora! Se, saindo do supermercado, a mineirinha vir um mendigo e ficar com pena, suspirará: 'Ai, gente, que dó!'. É provável que a essa altura o leitor já esteja apaixonado pelas mineiras.
'Não vem caçar confusão pro meu lado'. Porque, devo dizer, mineiro não arruma briga, mineiro 'caça confusão'. Se você quiser dizer que tal sujeito é arruaceiro, é melhor falar, para se fazer entendido, que ele 'vive caçando confusão'.
Leitor, você é meio burrinho ou é impressão? A propósito, um mineiro não pergunta: 'você não vai?'. A pergunta, mineiramente falando, seria: 'cê não anima ir?' Tão simples. O resto do Brasil complica tudo.
Tem tantos outros... O plural, então, é um problema. Um lindo problema, mas um problema. Sou, não nego, suspeito. Minha inclinação é para perdoar, com louvor, os deslizes vocabulares das mineiras. Aliás, deslizes nada. Só porque aqui a língua é outra, não quer dizer que a oficial esteja com a razão. Se você, em conversa, falar:
- 'Ah, fui lá comprar umas coisas...'
- 'Que's coisa?' - ela retrucará.
O plural dá um pulo. Sai das coisas e vai para o que. A conjugação dos verbos tem lá seus mistérios em Minas...
Ontem, uma senhora docemente me consolou: 'procupa não, bobo!'. E meus ouvidos, já acostumados às ingênuas conjugações mineiras, nem se espantam. Talvez se espantassem se ouvissem um: 'não se preocupe', ou algo assim.
A fórmula mineira é sintética. E diz tudo. Até o 'tchau' em Minas é personalizado. Ninguém diz tchau pura e simplesmene. Lá se diz: 'tchau procê', 'tchau procês'. É útil deixar claro o destinatário do tchau. Então... 'Tchau procês!'"